Dados do Trabalho


Título

Síndrome de Bouveret: A Outra Face da Fístula Enterobiliar

Introdução

A Síndrome de Bouveret é uma forma incomum da colelitíase complicada com fístula enterobiliar. Apresenta-se de forma inespecífica, demandando o auxílio de métodos de imagem para o diagnóstico, além de ter mortalidade historicamente alta e apresentações radiológicas por vezes desafiadoras, o que determina a relevância do tema para o radiologista.

Descrição

Uma mulher de 88 anos com história de colelitíase chega à emergência com dor abdominal aguda em cólica no epigástrio e hipocôndrio direito, além de náuseas e vômitos há 24 horas. Refere também perda de peso e dor abdominal pós-prandial leve há 3 meses. Nega alteração do hábito intestinal, febre, icterícia ou qualquer outro sintoma.
Ao exame físico, apresenta abdome globoso, peristáltico, doloroso à palpação em hipogástrio e hipocôndrio direito. O sinal de Murphy é negativo e o restante do exame é normal. Valores laboratoriais pertinentes incluem um PCR e Gama-GT elevados, de 21,5 mg/L e 48 U/L, respectivamente.

Discussão

A fístula enterobiliar ocorre como uma complicação rara da colelitíase, e sua forma de apresentação mais comum é através da doença Íleo-biliar, na qual o cálculo se impacta na valva íleo-cecal. A Síndrome de Bouveret é definida como a impactação de cálculo biliar no estômago distal ou duodeno proximal por fístula entre o órgão e a vesícula biliar. Ela corresponde a apenas 2 a 3% dos casos de fístula enterobiliar e costuma ser mais comum em mulheres idosas.
A apresentação clínica e achados laboratoriais são pouco específicos, incluindo náusea, vômitos, dor epigástrica e aumento de enzimas canaliculares e bilirrubinas. Para o diagnóstico, podemos fazer uso da ultrassonografia (US), radiografia convencional, tomografia computadorizada (TC) e colangiopancreatografia retrógrada (CPRE), sendo os dois últimos os métodos mais sensíveis. A identificação da clássica tríade de Rigler (obstrução intestinal, pneumobilia e cálculo ectópico) na imagem, acrescida de uma clínica compatível, costuma sugerir o diagnóstico em 30 a 35% dos pacientes.
Na TC, pneumobilia e dilatação esôfago-gástrica são facilmente identificadas e o cálculo é geralmente aparente no duodeno, mas pode ser isodenso à bile e ao fluido intestinal em 15 a 25% dos casos, seguido de ponto de transição abrupto. Se for possível fazer contraste oral, o cálculo será melhor individualizado, a fístula poderá ser vista e o achado de contraste dentro da vesícula também sugere o diagnóstico.

Palavras Chave

síndrome de Bouveret; colelitíase; fístula enterobiliar; cálculo isodenso; obstrução duodenal.

Área

Abdominal Gastrointestinal

Instituições

UFRJ - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Luiza Nahoum, Pedro Carpentieri-Primo, Júlia Toledo-Mendes, Matheus Garcia Lago-Machado, Fernando Nacur, Thiago Duarte-Torres, Daniella Braz Parente, Filipe C. B. Magalhães